Socopé

Manifestação musical popular entre os ilhéus até aos anos 1970. O nome refere-se tanto à complexa manifestação em geral, como ao género musical que a acompanha, à dança executada durante a performance e, também, ao grupo que a apresenta.

A data do seu surgimento não é conhecida. Há autores que indicam o seu aparecimento no início do século XX (Barros, 1956: 109, Reis, 1970: 193), no entanto não apresentam a explicação que fundamentasse este período.

Os grupos que apresentavam o socopé funcionavam, também, como sociedades de caracter lúdico e, provavelmente, de ajuda mútua, como acontecia no caso de outras organizações criados a volta das manifestações culturais.

Os membros de grupos tinham as funções bem definidas, tanto no seu caracter associativo, como performativo. Reis enumera todos os componentes de um dos grupos: “Presidente, vice-presidente, presidente do conselho, comissário, presidente do caminho de ferro, secretário, inspector de cântico, comandante de cântico, primeiro cantor, sócios tocadores e cantores, dois chefes de trânsito. Isto, no que concerne à parte masculina. Quanto à feminina, ou as “membras”, têm uma hierarquia igual, com presidente, vice-presidente, presidente do conselho, comissária, presidente do caminho de ferro, etc.” (Reis, 1969: 42). Nem todos os grupos tinham a composição tão complexa.

A performance podia ser mais ou menos elaborada, dependendo do sítio e motivo de apresentação. Na sua versão completa, tudo começava com um cortejo em que os membros do grupo se deslocavam ao quinté onde decorrera a apresentação. Seguia-se um discurso do presidente do grupo, que subia um mocho e debruçava-se sobre os acontecimentos da localidade, ornamentando o seu discurso com muitas piadas e alegorias, o que causava risos do público. De seguida, havia parte musical. O presidente entoava a melodia e os outros membros do grupo respondiam, acompanhados pelos tocadores. A melodia era bastante simples e repetitiva, mas o ritmo executado nos diversos instrumentos de percussão, tornava a interpretação dinâmica, em algumas partes, até frenética. Por fim, começava a dança, primeiro do próprio grupo, e, mais tarde, de todos os presentes no recinto. A dança não tinha muitas figuras ou passos definidos, mas expressava o ritmo executado por tocadores. Numa versão reduzida, mais frequentemente apresentada, o socopé limitava-se a um curto discurso falado e à interpretação de canções por membros e membras, acompanhados por tocadores.

O socopé era apresentado várias vezes por ano, acompanhando as festividades anuais dos ilhéus, entre as quais, as festas religiosas e algumas festas familiares da maior dimensão. As apresentações aconteciam, ainda, enquadradas nas festividades oficiais, organizadas pela administração portuguesa.

Até agora, identificámos 50 grupos de socopé, que existiram nas ilhas.


Texto: Magdalena Bialoborska Chambel


Entrevistas

O tema de socopé foi abordado em dezenas de entrevistas realizadas desde 2013 em São Tomé e Príncipe e em Portugal entre os santomenses

Bibliografia

Barros, M. (1956), “Folclore musical da Ilha de São Tomé (velhas danças, suas músicas e cantares)”, em Conselho Científico para a África ao Sul do Sara, Conferência Internacional dos Africanistas Ocidentais, 6ª sessão, V volume, São Tomé, Comissão de Cooperação Técnica na África ao Sul do Sara, pp. 101-112.

Bialoborska, Magdalena (2016), ”Vungu Téla. Estudo da Música Santomense: Uma proposta de métodos, técnicas e objectivos”, Cadernos de Estudos Africanos, 32, pp. 97-122.

Chambel, Magdalena Bialoborska (2022), Dêxa puíta sócó(m)pé. Música em São Tomé e Príncipe: do colonialismo à independência, Lisboa, Centro de História da Universidade de Lisboa.

Reis, Fernando (1969), Povô floga, o povo brinca. Folclore de São Tomé e Príncipe, São Tomé, Camâra Municipal de São Tomé.

Reis, Fernando (1970) “A arte popular em São Tomé e Príncipe”, em Fernando de Castro Pires de Lima, A Arte Popular em Portugal: Ilhas Adjacentes e Ultramar, volume 2, Lisboa, Verbo. P.129-222.

Santo, Carlos Espírito (1998), A Coroa do Mar, Lisboa, Caminho.