Arquivado Sob Angolares

Grupo de quiná de São João dos Angolares

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[entrada em construção]

 

Quiná é uma dança, usam machim de madeira, katana, dombô feita de andala da palmeira que põe na cabeça nos braços, nas pernas… Quiná é o ritmo de revolta.

Agostinho Apa e Luculiano, 23/09/2019

 

O quiná é uma manifestação cultural dos angolares, gente originária do Sul, que – acompanhando a sua migração - se espalhou pelas outras partes da ilha de São Tomé. Não se sabe qual foi a sua origem, nem onde existiu o primeiro grupo. As pessoas de São João dos Angolares consideram que o grupo desta localidade foi o primeiro e que serviu como a matriz para o surgimento de outros grupos [1]. Antigamente, os grupos eram mais numerosos, em vários casos chagando a cerca de 20 pessoas. Atualmente, raramente ultrapassam os 10 membros e membras. A composição do grupo é renovada, quando os membros mais velhos deixam de participar nas performances. Nestas alturas, são incentivados os jovens, que se juntam ao grupo e começam a executar a dança guerreira dos seus antepassados. As atuações são cada vez mais raras e normalmente acontecem quando há festividades religiosas ou atividades organizadas pelo governo e outras entidades públicas e privadas.

Um dos membros mais velhos do grupo de São João dos Angolares, senhor Agostinho Apa, lembra-se da altura em que as apresentações eram mais frequentes, mais longas, mais emotivas. Apesar das mudanças, o importante para o grupo é a manter a manifestação viva. A manifestação que, de acordo com eles, é a essência do caracter dos angolares.

O grupo de São João dos Angolares é composto por homens e mulheres, que cantam e dançam. Têm as andalas de palmeira amarradas nas cinturas, nas cabeças, nos braços, nas pernas. Usam também um pano, que chamam kabungo [2] [3], e que amarram nas cinturas. Os trajes, assim como a própria manifestação, mudaram e atualmente usa-se saias e blusas ou então os tradicionais quimonos no caso de mulheres. Os homens têm de ter tronco nu e costumam usar um pano, que muitas vezes chega quase ao chão.

O tradicional guipá (ou n’guipá) é indispensável para a apresentação do quiná. Este instrumento, construído de um tronco de madeira, é tocado exclusivamente nesta manifestação musical. Parece-se com uma canoa. Tem um reco-reco (canzá) fixado com os fios na parte superior do objeto. O tocador fica sentado no próprio instrumento e executa o ritmo, utilizando uma vara. O guipá parece, então, um reco-reco com uma caixa de ressonância que, certamente, aumenta o volume do som. Chama a atenção o formato do instrumento, que indica a importância da canoa para os angolares. No caso do grupo de São João dos Angolares, o instrumento foi feito pelo importante construtor de instrumentos da localidade, o senhor Luculiano. Às vezes, executam outros instrumentos de percussão, como os tambores. Mas o núcleo sonoro fulcral é constituído pelas vozes e o característico som do guipá. As vozes, em parte preponderante da performance, dialogam, entrelaçando as intonações do solista com as respostas do coro.

 

[1] A pesquisa da história da quiná encontra-se em curso e esta entrada, bem como outras referentes a esta manifestação cultural, serão atualizadas assim que mais dados fossem recolhidos e analisados.

[2] Opto por esta grafia após a consulta a Ninho Anguené, cantor de São João dos Angolares a viver em Portugal.

[3] Agradeço ao Osvaldo João a verificação da informação.

 

Entrevistas

Entrevista 32.2017, Lisboa, 12.05.2017

Entrevista 50.2019, São Tomé, 26.01.2019

Entrevista 65.2019, São João dos Angolares, 23.09.2019

Bibliografia

Chambel, Magdalena Bialoborska (2022), Dêxa puíta sócó(m)pé. Música em São Tomé e Príncipe: do colonialismo à independência, Lisboa, Centro de História da Universidade de Lisboa.

Imagens

Grupo de quiná de São João dos Angolares.
Grupo de quiná de São João dos Angolares. Apresentação na inauguração do Mês da Cultura. Trindade, 6 de abril de 2024. Fot. Magdalena B. Chambel

Localização

Metadados

Magdalena B. Chambel, “Grupo de quiná de São João dos Angolares,” Mapa Cultural de São Tomé e Príncipe, acedido 16 de Setembro de 2024, https://mail.culturastp.com/items/show/47.