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Antónia Cravid

Cantora

Antónia Cravid, a primeira mulher de São Tomé e Príncipe a cantar num agrupamento musical. Apesar de não ter participado nas atuações do agrupamento Victória, a sua voz ficou registada nas gravações do grupo, fundado pelo seu pai.

Antónia Cravid nasceu no dia 18 de fevereiro de 1948 na cidade de São Tomé. Filha do músico, cantor e compositor, Paulo Cravid, desde pequena, estava rodeada de música. Lembra-se do seu pai sentado à noite, com a sua viola, a escrever nos cadernos pautados as notas das músicas que compunha. Tinha 3 ou 4 anos. Poucos anos mais tarde, em meados dos anos 1950, o seu pai fundou o agrupamento Victória, um dos primeiros e mais importantes grupos acústicos nas ilhas de São Tomé e Príncipe. As memórias sobre a história do grupo entrelaçam-se com as memórias da infância e adolescência da Antónia.

Começou a cantar na igreja de Santo Amaro, onde um padre português era responsável pelo coro. Ia lá junto com a sua irmã, a Guida, e ambas destacavam-se entre outras coristas. Um dia, alguém chamou a atenção do seu pai para a fantástica voz da Antónia. Lembra-se que a decisão foi tomada muito rapidamente: “A partir de hoje, você já não vai à igreja. A partir de hoje, vai cantar comigo para ganhar dinheiro”, disse Paulo Cravid e começou a ensinar a Antónia as músicas do grupo Victória. Ensaiava sozinha com o pai e, também, com os restantes membros do grupo. Começou a participar nas gravações que faziam na rádio, na altura a Rádio Clube de São Tomé e Príncipe, que em 1969 se transformou em Emissora Nacional. Junto com o agrupamento Victória gravou 4 discos. As preparações de cada gravação eram bastante intensas: várias vezes por semana, o grupo juntava-se numa casa e trabalhavam muitas horas seguidas. Cada pormenor era levado à perfeição. A voz da Antónia era sempre “mais grossa”, por isso, após a entrada no grupo de uma das suas irmãs, a Antónia começou a fazer a segunda voz.

A sua participação no grupo, limitou-se às gravações. O pai era muito rídigo e não deixava as filhas participar nas atuações do grupo. Considerava o ambiente de fundão desapropriado para jovens raparigas, “Dizia que não podíamos perder noites. Porque isso eram noites. Começa a não sei quantas horas e acaba de manhã. Eram bebedeiras, palavras obscenas... Coisas que ele não queria que a filha pudesse estar no meio daquela gente toda. E então era mesmo só disco.”

Foi a primeira a juntar-se ao grupo Victória, depois entraram também as suas irmãs, Maria Pedro e Maria de Assunção, que continuaram a realizar as gravações com o grupo, mesmo depois da saída da Antónia do agrupamento e da sua viagem para Angola, em 1969. A Antónia ficou em Angola até 1989, acompanhando, à distância, o aparecimento dos conjuntos, comprando as gravações, que chegavam a Luanda. Em 1989, mudou-se para Portugal, onde reside até agora.

Antónia Cravid não seguiu a sua carreira musical. Em Angola, entregou um dos discos na Rádio de Angola e recebeu vários convites dos músicos angolanos que queriam trabalhar com ela. Não quis. Optou por outro caminho. As vezes, sente pena: “Eu, quando oiço coisas que eu cantei e oiço o meu pai a tocar, eu choro… Muito. E agora estou arrependida de não ter continuado. Eu seria uma grande senhora! Mas pronto.”

Entrevistas

Entrevista 115.2023, Almada, 13.08.2023.

Imagens

Antónia Cravid
©Manga-Manga
Antónia Cravid, Cantora, Criador: José A. Chambel, Data: 13.08.2023

Metadados

Magdalena Chambel, “Antónia Cravid,” Mapa Cultural de São Tomé e Príncipe, acedido 22 de Outubro de 2024, https://culturastp.com/items/show/42.