Danço congo

O danço congo é uma dança dramática representada em São Tomé e Príncipe. A altura do seu surgimento é desconhecida, assim como a sua origem. É provável que, ao contrário de várias outras manifestações culturais santomenses, não foi trazida de fora ou visivelmente influenciada pelas outras culturas, mas sim, criada pelos ilhéus.

Ouvimos várias versões de história apresentada durante a performance. Uma delas foi registada nos anos 1960 por Reis (1969, 1970), mas há outras, não menos importantes. Contudo, o que prevalece neste momento, tanto entre os atores, como o público, é a falta de conhecimento de história. O foco está nos movimentos e falas, nas piadas de bobos, no ritmo dos tambores. A história como um todo, assim como contada pelas pessoas mais idosas, diluiu-se e deixou de ter importância.

Há fardas especialmente preparadas para os interpretes do danço. Os calções e camisas estão acompanhados pelas capas que vestem tanto os figurantes, como, numa versão diferente e facilmente distinguível, o capitão. Todos eles usam os capacetes feitos de banças de palmeira decoradas com coloridos pedacinhos de plástico. Os bobos vestem roupas bizarras, peças de várias origens. Os bobos-mulheres, interpretados sempre por homens, costumam vestir a roupa interior por cima da roupa exterior. O feiticeiro costuma ter roupa vermelha, mas há grupos que o vestiram de branco.

Além de capacetes, algumas figuras usam máscaras, um acessório característico para o danço. Atualmente, os figurantes já não os usam, mas os bobos e as bobas, bem como o feiticeiro, costumam esconder as suas caras atrás de máscaras de vários tipos.

Os únicos que não têm nem vestuário próprio, nem máscaras, nem nenhum tipo de adereços são os tocadores de instrumentos. O grupo de músicos costuma ser composto por seis a oito pessoas, todos a executarem os instrumentos de percussão. Há quatro tambores, dois maiores (chamados uémbé e maria) e dois ou três mais pequenos (chamados tabaque), um ferro e um ou dois pares de chocalhos.

E há ainda as memblas que cantam, já que a falta de qualquer tipo de amplificação sonora, conduz a procura de formas naturais do aumento da força das vozes.

O grupo do danço é composto por pessoas de idades bem distintas: crianças e jovens que entram no grupo, normalmente para fazer o papel de figurantes e os mais velhos, mais experientes, que criaram a história desta manifestação cultural e que ganharam fãs em todos os cantos da ilha, já que a popularidade de algumas pessoas ligadas ao danço é comparável com a fama dos cantores dos antigos conjuntos ou dos artistas atuais.

O danço não está associado a nenhuma festividade anual, religiosa ou não. É interpretado por ocasiões mais diversas e em vários sítios. Há sempre uma enchente de gente quando os grupos atuam, mostrando a sua importância, mesmo atualmente, para a sociedade. Antigamente o número de grupos era maior do que agora.

Texto: Magdalena Bialoborska Chambel


Entrevistas

Várias entrevistas realizadas em São Tomé e Príncipe e em Portugal em 2019, 2020, 2021.

Bibliografia

Negreiros, Almada (1895), Historia Etnographica da Ilha de S. Thomé, Lisboa, Antiga Casa Bertrand – José Bastos.

Reis, Fernando (1969), Povô floga, o povo brinca. Folclore de São Tomé e Príncipe, São Tomé, Camâra Municipal de São Tomé.

Reis, Fernando (1970) “A arte popular em São Tomé e Prínciep”, em Fernando de Castro Pires de Lima, A Arte Popular em Portugal: Ilhas Adjacentes e Ultramar, volume 2, Lisboa, Verbo. P.129-222.

Ribas, Tomaz (1970), “Para o estudo do teatro popular e das danças dramáticas”, Permanênica, 3, pp. 22-23.