Agrupamentos acústicos

Nas primeiras décadas do século XX iniciou-se a história dos agrupamentos musicais criados pelos santomenses. Nos anos em que germinava a consciência nacionalista da elite santomense e em que a convivência entre os portugueses e os ilhéus começou a degenerar-se – na sequência de políticas com contornos raciais que foram implantadas pelo Estado Novo –, as ilhas testemunharam um fenómeno marcante no âmbito musical. A primeira metade do século XX, particularmente a partir dos anos 1920, foi a época em que várias associações socioculturais e, mais tarde, desportivas, começaram a ser instituídos pela elite santomense. No âmbito destas organizações, assim como acontecia nas associações dos portugueses, às quais os ilhéus da elite pertenciam nos anos anteriores, funcionavam secções de música. Os agrupamentos acústicos eram análogos, na sua composição, às tunas, que surgiram em Portugal no século XIX e no século XX para acompanhar festas, bailes e ainda apresentações teatrais (Capela e Cruz 2010, 1281-1282). Os grupos eram compostos por seis a doze elementos. Os cantores eram acompanhados pelos tocadores de instrumentos de corda (violas, violinos, bandolins, violoncelos, cavaquinhos), de sopro (flautas, harmónicas) e de vários instrumentos de percussão (tambores - tombolos, bombos -, canzás, chocalhos e idiofones improvisados, compostos de uma garrafa e um garfo, cujo toque é muito característico para a sonoridade destes agrupamentos musicais).

Texto: Magdalena Bialoborska Chambel

Entrevistas

O tema de agrupamentos acústicos foi abordado em dezenas de entrevistas realizadas desde 2013 em São Tomé e Príncipe e entre os santomenses a viver em Portugal

Fontes

Arquivo da Rádio Nacional de São Tomé e Príncipe

Bibliografia

Amado, Lúcio Neto (2010), Manifestações culturais são-tomenses. Apontamentos, comentários, reflexões, São Tomé, UNEAS.

Bialoborska, Magdalena (2016), ”Vungu Téla. Estudo da Música Santomense: Uma proposta de métodos, técnicas e objectivos”, Cadernos de Estudos Africanos, 32, pp. 97-122.

Bragança, Albertino (2005), A música popular santomense, São Tomé e Príncipe, UNEAS.

Capela, Conceição, et Leonor Cruz. 2010. “Tuna.” In Enciclopédia de música em Portugal no século XX, ed. Salwa Castelo-Branco, vol. 4, 1281-1284. Lisboa: Círculo de Leitores.

Chambel, Magdalena Bialoborska (2022), Dêxa puíta sócó(m)pé. Música em São Tomé e Príncipe: do colonialismo à independência, Lisboa, Centro de História da Universidade de Lisboa.

Reis, Fernando (1969), Povô floga, o povo brinca. Folclore de São Tomé e Príncipe, São Tomé, Camâra Municipal de São Tomé.

Santo, Carlos Espírito (1998), A Coroa do Mar, Lisboa, Caminho.