Arquivado Sob bulauê

Bulauê Malixa

Bulauê Malixa de Ribeira Peixe

Os atuais membros do grupo Malixa indicam o ano de 1977 como a altura em que o grupo começou as suas atuações de forma organizada. Sublinha-se que já antes desta data os tocadores de tambores do antigo grupo do danço congo, Lisboa Nova, costumavam acompanhar as festas e convívios. Contudo, somente após a independência e motivados pelos estudantes que vieram a Ribeira Peixe para participar no chamado Campo de Férias, surgiram num novo e definido formato. Os moradores da antiga roça recordam com frequência esta iniciativa organizada pelo estado e que decorreu na sua localidade, influenciando bastante a vida cultural da zona.

Lembram-se das explicações que na altura foram dadas aos estudantes, que questionavam a inexistência de qualquer grupo que pudesse acompanhar os convívios, assim como o primeiro nome do grupo: Este nome Lisboa Nova ficou para trás, foi esquecido. […] E como depois de independência as coisas ficaram desorganizadas, eles [os estudantes da cidade] reuniram os jovens daqui e perguntaram porque nós não criamos uma atividade aqui. Nós dissemos que os mais velhos já morreram e nós ficamos aqui isolados sem saber como organizar as coisas. Então eles arranjaram um bidão e as coisas começaram a bater. Então nos acompanhamos a eles com este nome Campo de Férias 77. Porque em 1977 que eles vieram para fazer o acampamento aqui. Então logo assim isso ficou (Entrevista 83.2020). No entanto, os habitantes da empresa opuseram-se ao nome proposto, alegando este não ser bastante sonante para ficar no ouvido das pessoas e era melhor procurar um nome mais específico, mais reto, mais claro. Então pusemos o nome Malixa (ibidem).

Os instrumentos, na altura fornecidos pela assembleia distrital, eram os anteriormente tocados pelos tocadores do danço, com a exceção do ferro. Perguntados como conseguiram executá-los e desde início acompanhar os convívios, dizem que aprenderam porque bulauê é uma cultura de angolares (ibidem). Afirmam que antes dos grupos criados na cidade, por muitos considerados como primeiros grupos de bulauê, já havia bulauê no sul. Porém, por ter sido nesta zona, ninguém lhes deu importância.

De acordo com os membros do grupo, muitos deles membros-fundadores, na altura em que este foi criado ainda não se falava em bulauê. Tocava-se para acompanhar a dança, o convívio. O nome bulauê, cujo significado desconhecem, surgiu quando o grupo se deslocou à cidade para uma atuação no Parque Popular . Foi aí que os jovens da cidade começaram a gritar “bulauê, bulauê!” e, a partir daquela altura, começou-se a chamar bulauê ao género musical e aos grupos que o interpretavam (Entrevista 83.2020 e conversas, outubro 2020, Ribeira Peixe e Monte Mário).

No início, o grupo era composto somente por angolares. Mais tarde, descendentes de contratados integraram o grupo, sempre em número reduzido. Cantaram em angolar, mas também em forro, o que é bastante peculiar, porque sublinha sempre a origem angolar desta atividade musical. O grupo, que existe até hoje, compõe-se, além de tocadores, do cantor principal, da segunda e, às vezes, da terceira voz (todos homens) e por cerca de duas dezenas de membras, que cantam e baloiçam ritmicamente. A sua performance nunca foi gravada, nem mesmo nos anos 1980, quando a Rádio Nacional de São Tomé e Príncipe (RNSTP) registou quase sessenta grupos diferentes, em várias partes da ilha (cf. Bialoborska, 2020a). 

[uma parte desta entrada é provém do artigo de Magdalena Bialoborska Chambel publicado em Africana Studia, 34 (Bialoborska, 2020b: 142-143)]

 

Entrevistas

Entrevista 83.2020, Ribeira Peixe, 04.10.2020

Várias conversas em Ribeira Peixe e Monte Mário, setembro e outubro de 2020

 

Bibliografia

Chambel, Magdalena Bialoborska (2022), Dêxa puíta sócó(m)pé. Música em São Tomé e Príncipe: do colonialismo à independência, Lisboa, Centro de História da Universidade de Lisboa.

Bialoborska, Magdalena (2020), “Panorama musical numa roça no sul de São Tomé: Ribeira Peixe antes e depois da independência”, Africana Studia, 34, pp.131-149.

Vídeo

Bulauê Malixa Bulauê Malixa de Ribeira Peixe, outubro 2020 Criador: José A. Chambel Data: 04/10/2020

Imagens

Membras do grupo bulauê Malixa.
Membras do grupo bulauê Malixa. Membras do grupo bulauê Malixa. Ribeira Peixe, outubro 2020. Criador: José A. Chambel Data: 04/10/2020
Tocadores do bulauê Malixa de Ribeira Peixe
Tocadores do bulauê Malixa de Ribeira Peixe Tocadores do bulauê Malixa de Ribeira Peixe, outubro 2020. Criador: José A. Chambel Data: 04/10/2020
Bulauê Malixa de Ribeira Peixe
Bulauê Malixa de Ribeira Peixe Bulauê Malixa de Ribeira Peixe, outubro 2020. Criador: José A. Chambel Data: 04/10/2020

Localização

Metadados

Magdalena Bialoborska Chambel, “Bulauê Malixa,” Mapa Cultural de São Tomé e Príncipe, acedido 19 de Abril de 2024, https://culturastp.com/registo/bulaue-malixa.